O Estoicismo é uma filosofia de vida que pode ser seguida por qualquer pessoa. A filosofia estoica nos ensina que o que vale realmente na vida são a força de nosso caráter e a integridade de nossas ações.
“Você, que é capaz, e que entende de onde e para onde vai seu caminho, e que, por essa razão tem uma ideia da distância a percorrer, ajuste seu caráter, desperte sua coragem, e fique firme em face das coisas que o tem aterrorizado” – Sêneca, Carta 29, Sobre evitar ajudar os não interessados
Assim, o que temos de mais valioso e importante é o nosso caráter, o conjunto de nossos pensamentos e ações. Todo o resto é temporário e pode ser tirado de nós. Um verdadeiro estoico não abre mão da sua honra. Não importa, portanto, o nosso cargo no trabalho, patrimônios ou posição social.
Os estoicos não fazem distinção sobre quem você é ou de onde veio. O que importa é o quanto você está no controle de si mesmo; como você lida com situações desfavoráveis; como gerencia suas próprias emoções; como toma decisões; o quanto conhece de si mesmo; ou o que faz do seu tempo.
“Quanto a mim, o meu tempo é livre; é de fato livre, e onde quer que eu esteja, sou mestre de mim mesmo. Pois não me entrego a meus negócios, mas empresto-me a eles, e não busco desculpas para desperdiçar meu tempo. E, onde quer que eu esteja, continuo minhas próprias meditações e pondero em minha mente algum pensamento saudável” - Sêneca, Carta 62
O Estoicismo é por excelência uma filosofia prática! Para os estoicos, não era o bastante apenas estudar e pensar sobre como viver a vida, mas era preciso colocar esses ensinamentos em prática. A adoção do Estoicismo como filosofia de vida torna seus praticantes menos emocionalmente reativos, mais conscientes do presente e mais resilientes.
“Não explique sua filosofia. A incorpore" – Epicteto
Os antigos conceberam o filósofo ideal como um verdadeiro guerreiro da mente, um herói espiritual semelhante ao próprio Hércules - herói e semideus, conhecido por sua grande força física, filho da mortal Alcmena e do deus Zeus.
Sêneca era conselheiro do imperador Nero. Epicteto era um escravo. Marco Aurélio foi o homem mais poderoso de seu tempo. Por mais que vivessem vidas completamente diferentes, todos eram estoicos!
Perceber o quanto o conhecimento estoico é útil até hoje e o quanto influenciou diferentes linhas de psicoterapia modernas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), nos ajuda a valorizar mais esse conhecimento atemporal. Sêneca estava ciente da importância e atemporalidade de suas lições:
“Estou trabalhando para gerações posteriores, escrevendo algumas ideias que podem ser de ajuda para eles. Há certos conselhos sadios, que podem ser comparados às prescrições de remédios; estes eu estou pondo por escrito” - Sêneca, Carta VIII
Quando era uma escola viva, o Estoicismo era ensinado pessoalmente de uma geração para outra. Ele ativamente mudou ao longo de centenas de anos da Grécia antiga para a Roma imperial.
O que devemos fazer hoje em dia é aproveitar os fundamentos da filosofia e tentar reconstruir um Estoicismo moderno que seja fiel ao caráter do original, mas também útil e prático para os tempos modernos.
O Estoicismo pode ser entendido como um sistema para prosperar em ambientes de estresse. A filosofa estoica nos ensina a encarar a vida sob uma nova perspectiva. O poder do Estoicismo está exatamente em ser um conjunto de lições atemporais e universais, que podem ser úteis e aplicadas de forma prática por qualquer um que o estude. Independente se o estudioso se considera ou não um filósofo.
O Estoicismo foi criado por pessoas comuns para pessoas comuns - como eu e você. De Zenão a Ryan Holiday, os estoicos são pessoas que valorizam ações mais do que apenas palavras. São homens e mulheres que buscam a autossuficiência e o autodesenvolvimento por meio de suas ações diárias.
Agir como um estoico é simples, mas não fácil, e muito menos intuitivo. A simplicidade dos conceitos estoicos é proposital. Quando uma filosofia é muito complexa, passamos mais tempo tentando entendê-la do que colocando-a em prática. A partir do momento que os estoicos valorizam ações acima de palavras, a filosofia deixa de ser sobre conceitos complexos.
Um estoico se eleva acima de suas reações emocionais e opta por aplicar a razão para observar situações do cotidiano. Se determinada emoção, como o medo, não melhorar sua situação, é provável que ela seja uma emoção inútil. É inevitável sentir medo, mas não é inevitável engajar com o medo.
"O que não é livre não pode ser honrado; pois medo significa escravidão" - Sêneca, Carta 66, Sobre vários aspectos da virtude
Devemos sempre fazer o nosso melhor; mas não podemos nos iludir de que o nosso melhor gerará sempre o resultado esperado. Precisamos ter em mente que nós não controlamos o resultado das nossas ações.
“O homem sábio considera a razão de todas as suas ações, mas não os resultados. O começo está em nosso próprio poder; o destino decide a questão, mas não permito que ele decida a sentença sobre mim” – Sêneca
Desperdiçamos grande parte da nossa vida engajando em emoções negativas, travados pelo medo e ansiedade, planejando sem executar, sofrendo por término e luto, nutrindo ressentimentos porque esquecemos que vivemos o presente apenas uma vez.
Um estoico irá refugiar-se em seus pensamentos e entender se o problema está realmente em fatores externos ou em sua perspectiva perante esses fatores (ou sobre si mesmo). Exemplo: Muitos têm o pensamento de: "Vou pedir demissão dessa empresa, porque não estou feliz aqui". Essa é uma ação que está sob seu controle, porém antes de desligar-se, reflita: você fez tudo o que estava ao seu alcance para melhorar a sua situação? Se não, provavelmente há trabalho a ser feito.
A fonte de insatisfação e de infelicidade na vida da maioria das pessoas reside no fato de serem emocionalmente reativas a tudo o que acontece. Um dos ensinamentos fundamentais do Estoicismo talvez seja um dos mais difíceis de internalizar e de aplicar no dia a dia: saber o que está e o que não está sob o nosso controle, o que para a filosofia estoica é conhecido como Dicotomia do Controle! Em relação às nossas emoções, vale lembrar: não controlamos o que acontece no mundo, mas controlamos as reações a esses acontecimentos! Em outras palavras, precisamos aprender a agir racionalmente e controlar nossas reações emocionais.
“A dicotomia do controle é libertadora desta maneira: ela te lembra que você não pode controlar os resultados, mas pode apenas fazer o seu melhor” – Matthew Van Natta, em the Beginner’s guide to stoicism: tools for emotional resilience and positivity
Se dermos o máximo de nós mesmos, focarmos naquilo que está sob nosso controle e assumirmos a responsabilidade pelas nossas vidas, estaremos mais próximos de sermos felizes. Quando agimos como um estoico, tomamos as rédeas da nossa vida, começamos a perceber decisões diárias que causam sofrimento desnecessário e passamos a viver melhor. Para tornar-se - ou aproximar-se - de um sábio estoico, você precisa agir como um. Apenas ler, estudar ou falar a respeito da filosofia não basta.
O lema dos estoicos é “viver de acordo com a natureza”. Para os estoicos, a natureza tem dois principais pilares: somos seres sociáveis e somos seres racionais. Assim, tratar as emoções de forma racional deve ser parte de nossa natureza, e parte do nosso leme de vida. Viver de acordo com a natureza é também aprender a amar a imprevisibilidade do futuro.
Você deve conquistar uma boa vida através de boas ações. É também parte da nossa natureza humana fazer o bem aos outros, independente se eles retribuem ou não. Nossas ações devem ser boas e voltadas para o bem comum. Essa é a nossa natureza. Esse é o nosso trabalho como humano. Diferente do que muitos acreditam, Estoicismo não é apatia ou indiferença.
“O que se exige do ser humano é que, se possível, seja útil ao maior número de semelhantes. Caso não consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo. Ao tornar-se útil aos demais, acaba por iniciar um trabalho social. Da mesma forma, quem se degenera prejudica não apenas a si, mas também a todos os quais poderia ajudar caso fosse uma pessoa melhor, quem se aprimora já beneficia os outros, já que prepara quem vai poder ajudá-los no futuro"- Sêneca, Da vida retirada
Um estoico mantém a equanimidade quando exposto a adversidades. Para isso, um estoico precisa visualizar e se preparar para quando os obstáculos aparecem no seu caminho, prática conhecida como Premeditatio Malorum, a previsão dos males. Podemos nos livrar do sofrimento emocional pelas adversidades que passamos, nos preparando antes que elas cheguem.
“É próprio de grande alma ser calma e tranquila, e olhar de cima as injúrias e ofensas” - Sêneca, Tratado sobre a clemência
Mesmo que você pratique a visualização negativa, ainda haverão surpresas no caminho. Mesmo que você estude o Estoicismo, você constantemente vai falhar. Por isso, para viver uma vida boa, precisamos também nos conhecer e nos aceitar, sabendo que o progresso é mais importante que a perfeição, devemos seguir o caminho para a tranquilidade da alma um passo de cada vez, 1% a cada dia.
Para mudarmos nossos comportamentos, é necessário termos um profundo entendimento de como funcionamos e uma autopercepção bem desenvolvida. O Estoicismo é, em grande parte, uma filosofia interna, que enfatiza o treinamento intensivo de sua mente e uma negligência com tudo que é externo. O imperador romano Marco Aurélio, o mais famoso filósofo estoico, dizia que o objetivo do estoicismo é tornar sua mente uma cidadela interna, imune a tudo que é negativo do mundo externo.
"Recorde-se que a faculdade hegemônica fica invencível e serena quando se retira para dentro. Não realiza nada que não tenha escolhido realizar, ainda que por mera obstinação. O que será dela quando julgar racional e deliberadamente, e não de modo obstinado? Um entendimento livre de paixões é uma cidadela. Não há refúgio mais seguro e inexpugnável. Quem não compreende isso é ignorante. Quem compreende porém não se refugia é infeliz" - Marco Aurélio, Meditações VIII.48
Assim, temos muito o que aprender e muitas possibilidades de utilizar o Estoicismo em todas as suas cores hoje em dia! Comece olhando para dentro e observando os seus comportamentos.
Você está seguindo o caminho trilhado por seus mestres estoicos - antigos e contemporâneos?