Estou trabalhando em alguns projetos em estágio inicial. Apesar de ainda estarem começando, sempre vislumbro o quão grande podem se tornar.
De certa forma, isso é útil. Afinal, como Sêneca coloca no trecho 3 da carta 71:
“Quando o homem não sabe para qual porto está indo, nenhum vento é favorável.”
Além disso, como Sêneca coloca no trecho 12.5 de Sobre a Tranquilidade da Alma, é importante ter uma intenção para guiar suas ações:
“Deixe seus esforços direcionados a algo, e mantenha esse fim em vista.”
Pessoas que vagam sem propósito e cujos esforços são difusos ficam presas a realizações medíocres (independente do que realizações signifique para você, e se são internas ou externas).
Apesar de ser importante ter intenções claras, existe uma diferença entre sonhar grande e sonhar acordado. Existe uma diferença entre ter uma direção clara e só ficar pensando na linha de chegada. E com frequência eu me esqueço dessa diferença.
Com frequência eu me encontro sonhando com aquele momento em que já teria um blog com vários leitores e um podcast com diversos ouvintes.
Sonhar acordado é uma forma de eu fugir do esforço necessário para fazer algo no presente. Quando sonho acordado, estou fugindo do presente. É mais fácil sonhar com o futuro do que viver o presente. No sonho não existem falhas. No sonho tudo acontece como eu imagino. O presente exige ação. No presente é onde corro risco de falhar.
Por isso, é natural que, quando me deparo com alguma decisão difícil, eu sinta um estímulo para fugir e sonhar acordado.
De certa forma, esse estímulo se manifesta de maneira positiva. Estas situações difíceis podem te levar não a sentir frustração ou qualquer outro sentimento negativo, mas sim a vislumbrar o futuro promissor. Por isso, seria fácil assumir que sonhar acordado não é um problema.
Mas, na perspectiva do Estoicismo, certamente é um. Afinal, como Sêneca escreve em Sobre a Brevidade da Vida:
“As pessoas perdem o dia na expectativa da noite, e a noite com o medo do amanhecer.”
Sempre que sonho acordado, ao invés de cumprir com a tarefa que defini para o agora, eu me torno uma pessoa que perde o dia na expectativa da noite.
Além disso, vou contra a outro conselho de Sêneca, também em Sobre a Brevidade da Vida. Apesar de ter sido escrito para Paulino, se encaixa perfeitamente para mim:
“A expectativa é o maior impedimento para viver. Leva-nos para o amanhã e nos faz perder o presente. Você está focando no futuro, que está no controle da sorte, e abandonando o presente, que está em seu controle. Para onde você está olhando? Para que meta você está lutando? O futuro todo está na incerteza. Viva no agora.”
Raramente percebo quando estou cometendo este erro de sonhar acordado. É mais simples observar vícios nos outros do que os meus.
Sempre vejo pessoas que passam por situações estressantes pensando no momento em que poderão parar e descansar. Pessoas que sobrevivem pensando no momento em que estarão aposentados. Pessoas que trabalham pensando naquela promoção e aumento que terão em breve.
Mas agora eu sou a pessoa que, ao invés de trabalhar no presente, está sonhando com o futuro.
Por isso, preciso me lembrar:
Ao sonhar acordado, estou procrastinando.
Ao sonhar acordado, estou negligenciando o presente.
E a vida é curta para quem negligencia o presente.