O Estoicismo é uma escola de filosofia prática que ensina como viver uma boa vida ao focar naquilo que é possível controlar. As ideias Estoicas ajudam a reduzir a ansiedade, o estresse e a lidar com a insegurança e outros sentimentos negativos. Seus praticantes prezam por manter a mente calma e racional independentemente do que aconteça.
Mais de 130.000 buscas são feitas mensalmente no Google sobre Estoicismo. Mas... por quê? Por que uma escola de filosofia com 2300 anos de idade continua sendo tão procurada ainda hoje?
Um dos principais motivos é o Estoicismo não ser uma filosofia de poltrona. De Zenão de Cítio a Ryan Holiday, todos os adeptos dessa corrente filosófica são pessoas que valorizam ações acima de palavras. Os Estoicos nunca fizeram distinção sobre quem você é ou de onde veio.
Outro motivo é que o Estoicismo trata de questões atemporais, como lidar com adversidades, emoções negativas, conhecer a si próprio e investir energia no que importa. Apesar de muito ter mudado nos últimos 2.300 anos, nosso cérebro ainda funciona de forma similar. Lidamos com desafios emocionais parecidos e enfrentamos adversidades diariamente. Dado que a filosofia Estoica trata de questões atemporais, não é surpreendente que ela continue sendo estudada até hoje.
Aqui está um sumário dos tópicos que serão abordados neste artigo:
A influência do pensamento Estoico no mundo contemporâneo
- Influência do Estoicismo no Cristianismo
- Influência do Estoicismo na psicoterapia
- Influência do Estoicismo no coaching
- Por que o Estoicismo é influente até hoje?
A história da origem do Estoicismo
10 princípios do Estoicismo para uma boa vida
- Aja de forma virtuosa
- Concentre-se no que você controla e aceite o restante
- Assuma responsabilidade pelo que você controla
- Saiba diferenciar entre o que é bom, mau ou indiferente
- Coloque os aprendizados em prática
- Pergunte-se o que poderia dar errado
- Internalize seus objetivos
- Transforme obstáculos em oportunidades
- Ame seu destino, porque não há outro melhor
- Esteja sempre autoconsciente
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Ao terminar a leitura, você entenderá melhor os princípios atemporais que embasam a filosofia Estoica. Mas antes é essencial que você entenda a importância do pensamento Estoico e o motivo de os princípios continuarem relevantes hoje.
A influência do pensamento Estoico no mundo contemporâneo
Se você chegou até esse artigo, é provável que você tenha tido algum contato com o Estoicismo anteriormente.
Quando teve esse contato inicial com o Estoicismo, talvez tenha pensado:
“Espera… eu já ouvi isso em algum lugar. Esse tal de Estoicismo não está trazendo nada novo.”
Essa reação é esperada. Não porque o Estoicismo de fato não traga nada novo, mas sim porque ele possui uma influência profunda na sociedade contemporânea. Devido a essa influência, é provável que você tenha tido contato com ideias Estoicas antes mesmo de saber que há uma escola de pensamento estruturada por trás.
O Estoicismo é influente por ter sido uma das escola de filosofia mais populares em Atenas e em Roma, ambas importantes bases a partir de onde a civilização ocidental foi construída. Portanto, é natural que o legado do Estoicismo tenha sido transmitido junto ao da linguagem (latim), política (direito civil), religião (Cristianismo) e arquitetura (estradas), por exemplo.
Por outro lado, dado que o Estoicismo como escola de filosofia caiu no esquecimento devido ao crescimento da Igreja Católica, ao longo do tempo essa influência se tornou invisível. Hoje é mais fácil apontar a influência do Cristianismo do que do Estoicismo na sociedade atual, por exemplo. Afinal, o Cristianismo continua relevante após milênios, enquanto o Estoicismo ficou esquecido e foi resgatado apenas séculos depois.
Imagine que você nunca tenha ouvido falar sobre Estoicismo. Em seguida, imagine-se conversando com alguém que já tenha lido Sêneca e Epicteto. Agora, imagine essa pessoa compartilhando com você uma ideia Estoica sem lhe explicar o que é o Estoicismo. Por último, imagine dezenas de milhares de pessoas participando dessa cadeia de “telefone sem fio” ao longo de centenas de anos.
Esse é só um pequeno exercício de pensamento para mostrar que é possível ideias Estoicas se popularizarem mais do que a própria filosofia Estoica. Como o Estoicismo é uma filosofia prática, é possível explicar conceitos dela sem citar Zenão ou Marco Aurélio até mesmo para uma criança de 8 anos.
É por essa razão que pessoas têm a sensação que os princípios Estoicos são familiares mesmo antes de conhecerem a escola de pensamento filosófico por trás. É por essa razão que a influência do Estoicismo na sociedade contemporânea se tornou invisível com o tempo.
Influência do Estoicismo no Cristianismo
Um exemplo de onde há uma influência invisível do Estoicismo é no Cristianismo.
O Cristianismo saiu de uma religião perseguida para se tornar a religião oficial do Império Romano em um período quando o Estoicismo era popular e parte do inconsciente coletivo da civilização romana. Por isso, não é surpreendente que Estoicismo tenha influenciado a religião cristã.
Fora as supostas cartas trocadas com Sêneca, existem evidências da influência do Estoicismo no pensamento Apóstolo Paulo. Por exemplo, o Apóstolo Paulo parafraseou Arato, um filósofo Estoico seguidor de Zenão de Cítio.
Essa evidência existe porque a obra Fenômenos, de Arato, sobreviveu ao tempo. Caso essa obra tivesse se perdido, provavelmente seria difícil ter certeza se Paulo de Tarso o parafraseou ou não.
Apesar dessa obra ter sobrevivido, diversas outras obras Estoicas se perderam. Crísipo, outro seguidor de Zenão, por exemplo, escreveu mais de 700 livros e nenhum sobreviveu ao tempo. Portanto, é impossível sabermos se algum trecho das cartas do Apóstolo Paulo tem como referência o pensamento do Crísipo, por exemplo.
Ou seja, pode ser que Crísipo, ou outro pensador Estoico, tenha também influenciado Paulo de Tarso ou outro pensador cristão. Mas dado que muitos registros históricos escritos da época se perderam, temos poucas evidências concretas e nos resta apenas especular. Por isso, a influência do Estoicismo no Cristianismo é majoritariamente “invisível.”
Influência do Estoicismo na psicoterapia
Um exemplo mais evidente e menos invisível da influência do Estoicismo na civilização atual está na psicoterapia.
A filosofia de Epicteto influenciou diretamente a Terapia Racional Emotiva Comportamental, criada por Albert Ellis e Aaron T. Beck. Essa abordagem psicoterapêutica é precursora da Cognitiva Comportamental, uma das mais utilizadas hoje.
Dado que ambos criaram a Terapia Racional-Emotiva Comportamental no século passado, os registros históricos não se perderam. Ou seja, nesse caso a influência não é invisível. Ambos publicamente disseram considerar o Estoicismo um precursor das psicoterapias modernas.
Por isso, se você já fez terapia, provavelmente você ouviu ideias similares às dos filósofos Estoicos. Além disso, se você já conversou com alguém que fez a Cognitiva Comportamental, é provável que tenha também ouvido ideias Estoicas dessa pessoa.
Influência do Estoicismo no coaching
Outro exemplo também evidente da influência do Estoicismo no mundo moderno é o coaching. Se você conheceu o Estoicismo recentemente e tem preconceito contra coaches, talvez tenha pensado: “Isso parece papo de coach.”
Mas o Estoicismo não é senso comum ou papo de coach. O fato de você talvez ter ouvido coaches pregarem ideias similares às dos Estoicos não é porque o Estoicismo não traz nada novo. Na verdade, é o contrário: parte do que coaches pregam é baseado no Estoicismo.
O motivo é que, por um lado, alguns talvez tenham lido Sêneca. Por outro, muitos conceitos do coaching vem da psicologia, que, como você acabou de ler, também foi influenciada pelo Estoicismo.
Ou seja, é justamente por ter trazido uma nova perspectiva de como viver bem que o Estoicismo é tão influente até hoje.
Por que o Estoicismo é influente até hoje?
Como você pode perceber, é provável que você tenha tido contato com ideias Estoicas antes de saber que eles tinham nome e mais de dois milênios de idade.
E esse é exatamente um motivo para você se aprofundar no Estoicismo. Afinal, quantas ideias são sólidas o suficiente para permanecerem relevantes após 2300 anos?
Muitas escolas de filosofia existiram desde então, mas nem todas tiveram uma influência igualmente profunda na sociedade. Não é possível hoje encontrar Cínicos ou pessoas que (voluntariamente) moram em barris, mas é possível encontrar Estoicos. Por quê?
Existem diversos motivos que tornam as ideias Estoicas influentes até hoje. Um dos principais é o fato de muitos conceitos Estoicos serem práticos e direcionados para a ação.
Alguns princípios são contra intuitivos. Outros são quase óbvios. Se dermos o máximo de nós mesmos, e focarmos naquilo que está sob nosso controle, estaremos mais próximos de sermos felizes. Como alguém poderia discordar disso?
A simplicidade dos conceitos Estoicos é proposital. Quando uma filosofia é muito complexa, passamos mais tempo tentando entendê-la do que a colocando em prática. Como os Estoicos valorizam ações acima de palavras, o Estoicismo não é sobre conceitos complexos e abstratos.
O resto deste artigo é, portanto, um convite para você não só entender mas também começar a praticar os princípios Estoicos. Mas, para que você aprenda como praticar o Estoicismo no dia a dia, é importante que você entenda como ele era praticado pelas pessoas que o criaram.
Talvez você era um daqueles alunos que odiava história na escola, e ficou para sempre traumatizado pelo assunto. Eu lhe entendo. De qualquer forma, confie em mim: será difícil entender como praticar o Estoicismo hoje sem saber minimamente como os filósofos na Grécia e Roma Antiga o praticavam.
Portanto, o próximo tópico é uma breve introdução histórica à filosofia do bem viver.
A história da origem do Estoicismo
O Estoicismo surgiu de um naufrágio (literalmente).
Zenão de Cítio, criador do Estoicismo, foi um mercador fenício. Seu trabalho era cruzar águas gregas transportando mercadorias, até que um dia o navio que o levava da Fenícia até Pireu afundou e levou para o fundo do mar todas as suas mercadorias. O naufrágio foi uma catástrofe em sua vida, já que ele vivia unicamente do comércio.
Zenão “desembarcou” em Atenas e começou a frequentar uma livraria, onde foi introduzido à filosofia de Diógenes de Sinope. Obviamente aconteceram mais coisas entre o naufrágio e a livraria. Mas, para fins práticos, vou resumir assim.
Uma suposta desgraça, que poderia mergulhar Zenão em uma profunda (e aparentemente justificável) depressão, deu a ele uma oportunidade única de embarcar na filosofia. De acordo com Diógenes Laércio, um biógrafo da época, Zenão ainda brincou dizendo:
“Agora que eu naufraguei, enfim embarquei em uma boa jornada.”
Ele permaneceu em Atenas, onde fundou sua escola na Stoa Poikile (uma estrutura arquitetônica em Atenas cujo nome traduzido ao pé da letra significa varanda pintada). Diferente de outras escolas filosóficas da época, as reuniões dos Estoicos eram feitas nessa varanda para que qualquer pessoa que passasse perto pudesse participar.
Não é à toa que uma filosofia que surgiu em um ambiente público tenha ganhado tanta popularidade ao longo da história. Por quase cinco séculos após sua fundação, o Estoicismo foi uma das mais influentes escolas de pensamento. Suas disciplinas eram praticadas por ricos e pobres, nobres e escravos.
O Estoicismo originalmente foi construído pelos gregos. As ideias de Zenão posteriormente foram desenvolvidas principalmente por Crísipo. Apesar de terem havido diversos filósofos Estoicos gregos, e Crísipo sozinho ter escrito mais de 700 livros, infelizmente nenhuma obra Estoica da época sobreviveu ao tempo.
Dado que o Império Romano absorveu a cultura grega, não demorou muito para o Estoicismo chegar a Roma. Lá viveram três Estoicos cujas obras felizmente sobreviveram. Por isso, os romanos foram os responsáveis por edificar o Estoicismo da forma como conhecemos hoje.
Três diferentes personagens, com três contextos de vida únicos:
- Sêneca (4 a.C. - 65) foi uma figura pública e uma das pessoas mais ricas de Roma. Foi tutor e conselheiro de Nero, imperador romano que posteriormente o condenou ao suicídio. Foi também um importante dramaturgo, e suas tragédias inspiraram até mesmo peças de Shakespeare. Seu pensamento sobreviveu por meio de suas cartas e seus tratados.
- Epicteto (55 - 135) nasceu escravo e, como escravo, chegou a Roma. Após obter sua liberdade, passou a lecionar e depois fundou sua própria escola na Grécia. Apesar de não ter escrito livros, suas aulas foram transcritas por um de seus alunos e, felizmente, sobreviveram ao tempo. Suas aulas e as transcrições foram responsáveis por educar grandes mentes gregas e romanas. Dentre elas, Júnio Rústico, que futuramente se tornaria tutor de Marco Aurélio.
- Marco Aurélio (121 - 180) é considerado o último dos cinco bons imperadores romanos. Foi o homem mais poderoso da Terra em seu tempo. Ao longo dos últimos anos de sua vida, reservava parte do dia para escrever em seu diário como forma de reflexão. Posteriormente, seu diário foi publicado com o título “Meditações”, e é hoje uma das mais populares obras Estoicas.
No entanto, é importante tem em mente que dois dos principais Estoicos romanos não escreveram com o intuito de lecionar:
- No caso de Sêneca, suas cartas e seus tratados são direcionados a diferentes pessoas, como Lucílio, Paulino e Hélvia. Sêneca utiliza acontecimentos na vida delas para aconselhar como deveriam agir caso seguissem os princípios Estoicos. No entanto, Sêneca não explica didaticamente quais são os princípios Estoicos. Ele explica os princípios por meio dos exemplos e conselhos.
- No caso de Marco Aurélio, Meditações foi o seu diário. Ele não esperava que seu diário fosse lido por alguém que não ele mesmo. Portanto, Marco Aurélio não fez nenhum esforço para deixar seu livro didático ou lecionar sobre Estoicismo. Ele explica os princípios Estoicos organicamente por meio de sua escrita.
Ou seja, os princípios listados no restante deste artigo não estão escritos dessa forma nas obras de Sêneca e Marco Aurélio. Nem mesmo as transcrições das aulas de Epicteto contém uma exposição sobre os princípios que embasam a filosofia Estoica. Essa exposição está, provavelmente, perdida para sempre nos livros de Crísipo.
Qualquer tentativa de listar princípios Estoicos é, inevitavelmente, uma releitura e uma reconstrução das ideias em comum entre os três, por melhor que essa reconstrução seja. Ou seja, o Estoicismo não se limita aos princípios a seguir. Existe muito mais a ser estudado. Esse artigo é só uma tentativa de apresentar a você o Estoicismo de forma breve e pragmática. Por ser apenas uma introdução, você não deve se limitar a essa leitura.
Agora que foi dado o aviso e você entendeu minimamente o contexto histórico do surgimento da filosofia Estoica, está na hora de acompanhar Zenão nesse mergulho filosófico.
10 princípios do Estoicismo para uma boa vida
1. Aja de forma virtuosa
“Um bom caráter é a única garantia de eterna e despreocupada felicidade.”
— Sêneca
Para os Estoicos, agir de forma virtuosa é a única forma de atingir uma boa vida. Por isso, eles guiavam suas ações com base nas quatro virtudes cardeais gregas.
As quatro virtudes cardeais foram definidas por Platão, mas influenciaram os Estoicos, outros filósofos helenísticos e até pensadores cristãos.
As quatro virtudes são traços de caráter que devemos agir de acordo e valorizar nos outros:
- Sabedoria: agir de forma sábia significa tomar decisões com excelência, realizar julgamentos com base na razão e diferenciar entre o certo e o errado. É uma importante virtude por sustentar as outras três.
- Coragem: agir de forma corajosa significa enfrentar situações amedrontadoras, incertas, intimidadoras e difíceis sem covardia.
- Temperança: agir de forma moderada significa evitar o excesso, agir de forma equilibrada, ter autocontrole e não se deixar levar por desejos desenfreados. Significa não deixar a busca por prazeres se sobrepor à razão.
- Justiça: agir de forma justa significa ser razoável, íntegro e honesto ao lidar com o outro. Sem a justiça, a sabedoria, coragem e temperança podem se transformar em vícios. Por isso, as quatro virtudes precisam existir em harmonia.
Para os Estoicos, não importa seu cargo no trabalho, seus patrimônios, sua posição social, seu momento de vida, ou se usa gravata ou camiseta. O que importa são apenas o seu caráter, os valores que você nutre, e a integridade das suas ações. É por esse motivo que o Estoicismo era praticado por ricos e pobres, nobres e escravos.
Ao longo da história da humanidade, diversas personalidades foram influenciadas pelo Estoicismo. Alguns exemplos:
- Michel de Montaigne (1533 - 1592) foi filósofo, político e ensaísta. Foi o inventor do ensaio como gênero literário. Tinha uma frase de Epicteto esculpida em uma placa no seu escritório, onde passava a maior parte do tempo.
- Frederico II da Prússia (1712 - 1786), carregava consigo obras Estoicas e dizia que elas podiam o “sustentar no infortúnio.”
- Adam Smith (1723 - 1790) foi filósofo e economista. Considerado o pai da economia moderna. Menciona Marco Aurélio como uma de suas influências em Teoria dos Sentimentos Morais.
- George Washington (1732 - 1799) foi o 1º Presidente dos Estados Unidos. Foi apresentado ao Estoicismo aos 17. Costumava referenciar Catão, um Estoico romano, em discursos para suas tropas durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos.
- Thomas Jefferson (1743 - 1826) foi 3º Presidente dos Estados Unidos. Tinha uma obra de Sêneca em sua mesa de cabeceira quando faleceu.
- John Stuart Mill (1806 - 1873) foi um filósofo e economista. Considerado um dos primeiros e mais proeminentes defensores do liberalismo. Cita Marco Aurélio como "o homem mais esclarecido de seu tempo" em seu famoso tratado Sobre a Liberdade.
Após ler o nomes nessa lista, talvez pense que o Estoicismo seja uma filosofia para pessoas importantes. Mas não é o caso. O motivo de o Estoicismo ter influenciado figuras públicas ao longo da história não é por o Estoicismo ter sido feito para pessoas importantes.
Nenhuma dessas pessoas eram importantes antes de fazerem o que fizeram. Eles se tornaram importantes exatamente por se preocuparem em serem sábias, corajosas, moderadas e justas. Uma vez que você passa a agir da forma mais virtuosa possível, o que lhe impede de alcançar grandes feitos na vida?
2. Concentre-se no que você controla e aceite o restante
“O que é, enfim, ser educado adequadamente? É saber separar as coisas que estão sob nosso controle daquelas que não estão.”
— Epicteto
Essa citação é primeira frase a ser lida no Manual de Epicteto por definir a dicotomia do controle, um princípio que sustenta a filosofia Estoica.
Para vivermos uma boa vida, devemos focar no que controlamos e aceitar todo o restante que acontecer. Não podemos mudar o que já ocorreu, mas podemos escolher o que fazer com as circunstâncias em que nos encontramos.
“Faça o melhor com o que estiver em seu poder, e apenas aceite o que vier a acontecer. Algumas coisas estão ao nosso alcance e outras coisas não estão.”
— Epicteto
Em nosso poder estão nossas escolhas voluntárias, nossas ações e julgamentos. O restante não está sob nosso controle completo, e pode ser categorizado conforme nosso nível de influência:
- Influência parcial: nossa saúde, patrimônio, relacionamentos e o que resulta das nossas ações e pensamentos.
- Influência pequena ou inexistente: o tempo, nossa origem e outras circunstâncias completamente externas a nós.
Está sob seu controle fazer atividade física. Mas não está sob seu controle definir se o display da balança irá mostrar 60, 70 ou 80kg. Talvez você descubra que possui uma condição que lhe impede de emagrecer, por exemplo.
Está sob seu poder trabalhar. Mas não está sob seu poder definir quantos dígitos haverão na sua conta bancária daqui a alguns anos. Talvez o banco central do seu país desvalorize a moeda local e os dígitos que você acumulou passem a não ter valor nenhum, por exemplo.
Não temos poder total sobre os eventos ao nosso redor, mas controlamos nossas ações, crenças e julgamentos. É por isso que agir de forma virtuosa é tão importante. Se agirmos, pensarmos e julgarmos de forma sábia, corajosa, moderada e justa, teremos uma boa vida. Se tentarmos controlar o incontrolável, teremos uma vida de sofrimento.
3. Assuma responsabilidade pelo que você controla
“Os homens são perturbados não pelas coisas que acontecem, mas sim por suas opiniões sobre os acontecimentos.”
— Epicteto
Você não escolhe seus pais, a escola onde estudou quando criança ou os amigos que conheceu por lá, por exemplo. Ainda assim, esses fatores influenciam o que acontece na sua vida posteriormente.
Ou seja, a maior parte do que acontece em nossas vidas não está sob nosso controle. Apesar disso, podemos escolher como vamos responder aos acontecimentos incontroláveis.
Nós devemos ser responsáveis pelo o que pensamos e fazemos a respeito das situações onde nos encontramos. Afinal, se não assumirmos responsabilidade por isso, pelo o que mais podemos nos responsabilizar?
Independente de qual seja a situação onde você se encontra, assumir responsabilidade por suas ações e pensamentos é essencial para navegar pelo mar violento que é a vida. Se você não assume responsabilidade e fica à deriva no mar violento, você está propenso a naufragar.
Assumir a responsabilidade por nossas ações e julgamentos nos faz parar de acusar fatores externos como culpados pela nossa felicidade ou miséria. Uma vez que fatores externos estão fora do nosso controle, apontá-los como culpados não gera nada de produtivo.
Se você culpa algo ou alguém por suas ações e pensamentos, você está abrindo mão do pouco que você controla e condicionando seu sofrimento ao acaso.
Quando passamos a assumir responsabilidade pelo o que controlamos, o que acontece à nossa volta perde importância. Afinal, o que passa a importar é agir de acordo com nossos valores, independente do que aconteça conosco.
4. Saiba diferenciar entre o que é bom, mau ou indiferente
Segundo os Estoicos, podemos separar todas as coisas em 3 categorias: as coisas boas, as más e as indiferentes.
As coisas boas são apenas as virtudes. Ou seja, ações, pensamentos e julgamentos sábios, corajosos, moderados e justos.
As coisas más são apenas os vícios, o oposto das virtudes. Ou seja, ações, pensamentos e julgamentos ignorantes, covardes, libertinos e injustos.
Todo o resto é indiferente. Ou seja, vida ou morte, boa ou má reputação, riqueza ou miséria, saúde ou doença.
Apenas o que está em nosso controle pode ser considerado bom ou mau. Tudo que foge do nosso poder é indiferente.
Afinal, se considerarmos algo fora do nosso poder como bom, nós iremos desejar tê-lo. Mas esse algo pode ser ressarcido pelo destino a qualquer momento. Se o desejo por esse algo existir, iremos nos frustrar quando esse algo for tirado de nós contra nossa vontade.
É simples entender o porquê com um exemplo: Se você considera a saúde como algo bom, você vai desejar ser saudável. O problema é que sua saúde pode ser ressarcida pelo destino a qualquer momento. Mesmo que você considere a saúde algo bom, você pode desenvolver uma doença rara futuramente, por exemplo. Se você criou a expectativa de estar sempre saudável, você irá se frustrar quando descobrir a doença. Sempre que criamos um desejo por algo externo, criamos também um sofrimento futuro no momento em que este algo for tirado de nós.
É por isso que não devemos desejar nada externo. É por isso que apenas nossas ações, pensamentos e julgamentos podem ser considerados coisas boas ou más.
Para os Estoicos, ficar doente não é bom ou mau, mas sim indiferente. Afinal, não temos total controle se ficaremos doentes ou não. Mas não é porque a doença é indiferente que um Estoico não cuidaria da própria saúde. Os Estoicos consideram que é preferível estarmos saudáveis. Os Estoicos separam tudo o que é indiferente entre preferíveis, neutros e não-preferíveis.
No caso acima, se estivermos saudáveis podemos utilizar nossa racionalidade humana para sermos úteis a outros seres do cosmos. Se estivermos confinados a uma cama, não conseguiremos nos levantar para cumprir nossa tarefa como seres humanos. É por isso que Estoicos valorizam ações como praticar exercícios, ter uma alimentação balanceada e manter o sono regular.
Seguindo a mesma lógica, a riqueza também é indiferente. Mas é preferível termos independência financeira, já que por meio dela podemos direcionar parte de nossa renda para causas que acreditamos e dedicar tempo à filosofia, por exemplo.
Ter amigos é preferível a ter inimigos. Ter boa reputação é preferível a ter má-reputação. Já a fama não é preferível ao anonimato, por exemplo. E assim por diante.
Por último, é importante não preferir saúde ou riqueza a ponto de desejá-las. A partir do momento que as desejamos, deixamos de considerá-las indiferentes e passamos a considerá-los como coisas boas. Por consequência, deixamos de ser sábios, dado que sabedoria inclui saber diferenciar entre o que é bom, mau ou indiferente.
5. Coloque os aprendizados em prática
“Não perca tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja um.”
— Marco Aurélio
O Estoicismo é uma filosofia prática. Para os Estoicos, pensar sobre como viver a vida não é o bastante. Não colocar pensamentos em prática é o mesmo que não pensar. Discussões e argumentos são desnecessários e inúteis se não nos propusermos a agir.
Não devemos nos satisfazer apenas em aprender conceitos teóricos e abstratos. Não devemos esperar a oportunidade ideal para experimentar o que aprendemos. Precisamos traduzir nossos pensamentos para a prática.
Conquistamos uma boa vida por meio de boas ações.
6. Pergunte-se o que poderia dar errado
A grande maioria das situações que vivemos são imprevistas. Como não é possível nos preparamos para todas elas, costumamos nos sentir ansiosos e nervosos quando as enfrentamos.
Contudo, não são essas situações as responsáveis por causar perturbações no nosso estado de tranquilidade natural. O que nos perturba são nossos julgamentos e a forma como reagimos a elas. Afinal, uma mesma circunstância pode fazer pessoas diferentes rirem ou chorarem. Ou seja, a diferença está na perspectiva.
Por definição não conseguimos prever o imprevisível, mas podemos exercitar nossa mente para lidar melhor com o imprevisto quando ele chegar. Para não perderem a serenidade em situações adversas, os Estoicos utilizam a premeditação dos males (do latim: premeditatio malorum).
Vamos supor que você planeja navegar pelo litoral brasileiro de ponta a ponta. Antes de começar a viagem, você vai listar cidades e praias para visitar, culinárias locais para experimentar, e assim por diante. Mas, se você é como a maioria, você não vai listar o que poderia dar de errado na sua viagem.
A premeditação dos males é exatamente esse exercício de imaginar os piores cenários que a maioria não faz. Além de praias, cidades e culinárias, um Estoico em uma viagem de barco pensaria:
O que aconteceria se meu barco naufragasse? E se viesse uma tempestade muito forte? E se minhas velas não suportassem o vento? E se eu me perdesse? E se acabasse a comida e eu ainda estivesse muito longe de outro porto?
Ao premeditar os males, treinamos nossa mente para lidar de forma calma e racional com cenários desfavoráveis e até catastróficos.
Então, que tal você começar agora?
Pense no que você está planejando fazer nesta semana. Em seguida, pergunta-se: O que poderia dar errado nesses planos?
7. Internalize seus objetivos
“Eu vou fazer isso e mais aquilo, se nada acontecer que possa se tornar um obstáculo para a minha decisão. Eu vou cruzar o oceano, se nada me impedir de fazê-lo.”
— Sêneca
O Estoicismo nos ensina a sempre darmos o nosso melhor. Mas não podemos nos iludir acreditando que o nosso melhor sempre nos levará ao resultado esperado. Nós controlamos nossas ações, não o resultado delas.
Para os Estoicos, não há sentido em definir como meta “cruzar o oceano.” Afinal, uma tempestade pode impedir você de chegar às terras do outro lado. Por outro lado, nada pode lhe impedir de navegar pelo mar da melhor forma que você é capaz e de usar suas habilidades até o limite.
Em vez de atrelar um objetivo a algo externo, que não se pode ter total controle sobre, um Estoico atrela seu objetivo a algo interno, que está em seu poder. Esse é o princípio de internalizar objetivos na prática.
Talvez você esteja pensando que esse princípio soe como passividade. Algo como:
“Vou tentar. Mas, se eu não conseguir, está tudo bem. Dei o meu melhor.”
Mas é exatamente o oposto.
Afinal, uma vez que você age como um Estoico e remove o desejo de atingir determinado resultado, você elimina também a frustração futura de não o ter atingido. Uma vez que sua mente estará livre de sofrimentos desnecessários no futuro, você poderá focar nas suas ações, que estão sob seu controle.
Em outras palavras, o entendimento de que nem tudo acontecerá como planejamos nos previne de frustrações e sofrimentos desnecessários. Já que não estamos gastando tempo sofrendo desnecessariamente, podemos focar em agir dadas as novas circunstâncias que nos foram apresentadas.
O oposto de agir como um Estoico é ficar preso na imaginação, pensando em como as circunstâncias se desenrolaram em universos paralelos. Isso sim é passividade.
Pense comigo: Qual marinheiro tem mais chances de cruzar o mar? O que fica se lamentando por ter aparecido uma tempestade? Ou o que foca em navegar da melhor forma possível, independente se o mar está violento ou não?
8. Transforme obstáculos em oportunidades
Já sabemos que eventos externos não são bons e nem ruins, mas sim indiferentes. Isso significa que nenhum evento em si é uma oportunidade ou uma obstáculo. O que importa é o que fazemos, pensamos e julgamos sobre esses acontecimentos.
Nossa percepção pode se comportar com uma âncora, que nos prende e nos impede de navegar. Ou pode ser um vento forte que infla nossas velas e nos faz atravessar o oceano.
Historicamente, provavelmente você considera oportunidade aquilo que, por exemplo, lhe ajuda a atingir seus objetivos de ganhar mais dinheiro ou reconhecimento. Mas não é sobre esse tipo de oportunidade que estou falando aqui. Afinal, se você colocar em prática o princípio de internalizar seus objetivos, você irá parar buscar coisas externas como dinheiro ou reconhecimento.
A partir do momento que você define objetivos internos—por exemplo, se tornar uma pessoa mais sábia, corajosa, moderada ou justa—, todo acontecimento que lhe aproxima desse objetivo será uma oportunidade.
Uma proposta de emprego pode ser uma boa oportunidade de ganhar mais dinheiro ou reconhecimento, mas nem sempre irá lhe ajudar a se tornar uma pessoa melhor.
Por outro lado, é pouco provável que você consiga monetizar o fato de estar doente. Ainda assim, a doença pode ser uma boa oportunidade para aprender a lidar com adversidades.
A partir do momento que você internaliza seus objetivos, será mais simples transformar obstáculos em oportunidades.
9. Ame seu destino, porque não há outro melhor
“Não queira que tudo aconteça como deseja. Deseje que tudo aconteça como deve acontecer, e terá serenidade.”
— Epicteto
Parece loucura amar acontecimentos que nos desfavorecem e nos tiram do conforto. A princípio, talvez você pense:
“Como desejar ter sido demitido? Devo preferir estar doente? Se um familiar querido faleceu, é possível evitar querer que ele ainda vivesse?”
Eu lhe entendo. Não é um princípio tão simples de compreender, e muito menos de colocar em prática. Para que esse conceito fique mais claro, pense comigo: é mais fácil mudar um evento que já aconteceu, ou o seu julgamento sobre o acontecido?
Uma vez que o ocorrido está no passado, não há nada que possamos fazer para mudá-lo. Por outro lado, nossos julgamentos são um fenômeno do presente. Dado que tudo que temos é o presente e nossa capacidade de lidar com ele, podemos alterar nossos julgamentos sobre as situações.
Você se lembra do princípio que coisas externas não são boas ou más, mas sim indiferentes? O conceito de amar o seu destino complementa este ponto. Dado que você apenas controla suas ações, pensamentos e julgamentos, tente agir, pensar e julgar positivamente tudo que acontece com você.
Lembre-se de Zenão: todo naufrágio é uma oportunidade de atracar em terras novas.
Para amar seu destino, primeiro você precisa aceitar que você não controla, apenas influencia o que acontece com você. Você controla apenas como age, pensa e julga o que acontece com você. Por isso, tudo que vier a ocorrer é indiferente. Sua vontade não dita se vai chover ou fazer sol, ou se vai estar frio ou calor. Portanto, só lhe resta aceitar estes acontecimentos.
Em seguida, vá além da simples aceitação, e ame profundamente tudo que acontecer com você.
Se o dia começa frio, você pode aproveitar para sair com sua roupa mais quente e confortável. Se esquenta no meio da tarde, você poder tirar o casaco e aproveitar o vento no rosto. Se chove, o ar estará melhor para respirar. Se ficar ensolarado, seu corpo irá produzir vitamina D.
Ou seja, amar seu destino significa não se importar com o tempo em si. Afinal, você sempre pode aproveitar o melhor dele.
10. Esteja sempre autoconsciente
A autoconsciência anda de mãos dadas com o autoconhecimento. Estar autoconsciente significa ser capaz de observar e analisar suas próprias ações, pensamentos e julgamentos.
A autoconsciência é ao mesmo tempo um pré-requisito e uma consequência da prática do Estoicismo. Ao mesmo tempo que é preciso autoconsciência para se tornar uma pessoa Estoica, você desenvolve autoconsciência à medida que pratica o Estoicismo.
Um bom exercício para começar a treinar essa consciência de si é se observar em terceira pessoa. Se você pudesse dar um passo para trás e ver você mesmo no seu dia-a-dia, o que você veria? Quais ações você estaria fazendo? Quais pensamentos estariam passando pela sua mente? Quais emoções estariam tomando conta de você?
Caso você pudesse se observar em terceira pessoa, você ficaria feliz com o que veria?
A capacidade de se afastar brevemente de si é o que irá lhe permitir lidar melhor com seus pensamentos e tomar boas decisões no agora. Ao se observar à distância, você sai do piloto automático.
Quando você se depara com qualquer situação, você reage inicialmente com uma emoção automática e incontrolável, como raiva, alegria, ou medo. Em seguida, em resposta você faz um julgamento de valor sobre a emoção e cria um sentimento. Esse sentimento engatilha ações como gritar quando sente raiva ou travar quando sente medo.
Estar autoconsciente significa separar a emoção em si do seu julgamento de valor sobre ela. Uma vez que você tem consciência de si próprio, você pode avaliar se determinado sentimento está lhe favorecendo ou prejudicando diante da situação.
Agir como um Estoico significa não controlar suas emoções, mas sim sobre não deixar suas emoções controlarem você.
Quando você desenvolver a capacidade de observar, analisar e julgar seus próprios pensamentos, você se irá tomar decisões cada vez melhores e mais racionais. Somente assim poderá mudar seu comportamento e sua vida para melhor.
Exercícios dos filósofos Estoicos aplicáveis hoje
Você não vai absorver os princípios Estoicos da noite para o dia. É necessário se imergir neles por algum tempo.
Mas não basta se imergir apenas na teoria. Os Estoicos valorizam ações acima de palavras. É por isso que os princípios Estoicos não são complexos e abstratos. Caso fossem, não seria possível traduzi-los para a prática.
Para lhe ajudar na tarefa de se imergir no Estoicismo, você pode começar por exercícios espirituais praticados por Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio adaptados para os tempos modernos.
Aqui estão 3 deles:
1. Reflexão diária
Nós temos a sensação que o tempo “voa” quando vivemos no piloto automático. Pare para pensar sobre o seu dia de hoje: Quanto do seu dia você de fato viveu? Quanto passou sem que nem se desse conta?
Reflexões diárias nos tiram do piloto automático e nos ajudam a retomar o controle da direção da nossa vida. Refletir sobre como ser uma pessoa mais sábia, corajosa, moderada e justa é o que lhe mantém mais próximo do seu eu ideal. É por isso que Marco Aurélio escreveu Meditações, afinal. A escrita de Meditações o ajudava a refletir.
Você pode começar sua reflexão diária se perguntando:
- O que eu fiz de bom hoje?
- Onde falhei?
- O que eu poderia ter feito melhor?
Além dessas 3 perguntas, defina melhorias tangíveis para implementar no próximo dia. Algo como: sorrir mais, fazer mais silêncio ou respirar antes de responder uma pergunta.
O simples ato de propor a você mesmo ações melhores ajuda a refletir, no dia seguinte, se você fez ou não aquilo que se propôs. No dia seguinte, você irá refletir sobre os efeitos da nova ação que colocou em prática, ou o que lhe impediu de agir.
Manter o hábito de registrar suas reflexões em texto, áudio ou vídeo lhe ajudará a ter uma referência da sua evolução ao longo do tempo. Quando passamos muito tempo vidrados na trajetória que ainda precisamos percorrer, costumamos esquecer de olhar para trás. Perceber o quão longe chegamos nos ajuda a saber que estamos no caminho certo.
Na prática: Separe cinco minutos antes de dormir para refletir sobre o seu dia usando as 3 perguntas anteriores.
Registrar suas reflexões não é uma obrigação, mas torna o exercício mais eficiente. Algumas formas de você registrar suas reflexões diárias são:
- Usar apps como o Notion;
- Gravar áudios ou escrever em grupos de WhatsApp só com você neles;
- Manter um caderno físico de anotações;
- Gravar vídeos e salvá-los em um local que você tenha acesso fácil no futuro.
2. Ame seu destino
“O destino conduz a vontade e arrasta consigo os relutantes.”
— Sêneca
Quantas vezes você já viu alguém bravo por o semáforo ter aberto logo quando a pessoa estava prestes a atravessar a rua? Quantas vezes viu alguém impaciente por causa da demora do elevador? Quantas vezes você já foi esse alguém?
É comum sentirmos frustração quando mesmo as situações mais insignificantes não acontecem como desejamos. E esse é um dos maiores males que podemos cometer contra nós mesmos. Quanto mais justificável parece se sentir mal por conta de um acontecido, mais mal estamos nos infringindo.
Quando nos frustramos, estamos abrimos mão do controle sobre as ações que podemos tomar em resposta ao acontecido. Sua frustração não muda o passado. Por isso, não relute contra o fato de o elevador estar demorando para chegar. Não deseje que o elevador fosse mais rápido. Aceite a velocidade do elevador como ela é.
Pessoas Estoicas se preocupam apenas com o que podem controlar. O futuro é incerto e não está sob nosso controle. Não se apegue às suas expectativas e lembre-se que as coisas vêm e vão. Um Estoico não se frustra quando as coisas acontecem de forma supostamente desfavorável.
Não há sentido em relutar contra algo que está fora do seu poder de escolha. Essa relutância só torna você miserável diante da situação. Aceitar o destino, amá-lo e fazer o melhor a partir do que aconteceu é uma essencial para viver uma vida boa, plena e feliz.
Na prática: Quando algo acontecer com você, pergunte a si mesmo se você pode ou não fazer algo a respeito. Se a resposta for não, então apenas aceite o acontecimento. Se a resposta for sim, foque nas ações que você deve tomar a partir do acontecido.
3. Dor e doença, duas oportunidades para exercitar suas virtudes
“Doenças são um impedimento para o corpo, mas não para o pensamento, a menos que pense que sim. Mancar é um impedimento para as pernas, não para a vontade. Use essa mesma lógica para tudo mais que vier acontecer. Você poderá achar um impedimento para qualquer coisa, mas não para você mesmo.”
— Epicteto
Epicteto era manco. Ele sabia que mancar era um impedimento para suas pernas, não para sua mente. Ser manco o impedia de ser soldado, mas não de viver uma boa vida.
O mesmo pode ser aplicado para dores físicas ou doenças. A doença afeta o corpo, não a mente. A doença não afeta nossa capacidade de escolher como agir e pensar em resposta à doença. Afinal, nós podemos tanto suportar dores de cabeça com serenidade, ou fazer delas uma desculpa para não cumprir nenhuma tarefa no dia.
Sentir dor ou estar doente não pode ser justificativa para fraquejar seu caráter. Preserve a sua tranquilidade. Opte por não ser afetado pela dor, e você não terá sido.
Na prática: Na próxima vez que você sentir qualquer espécie de dor ou estiver doente, lembre-se de exercitar as virtudes (sabedoria, coragem, temperança e justiça). Não se esqueça de que a dor afeta o corpo, não a mente.
Livros sobre Estoicismo: Quais os melhores e por qual começar?
Esse artigo é apenas uma introdução ao Estoicismo.
Para que você se torne uma pessoa Estoica, é importante que continue estudando, exercitando e fortalecendo sua racionalidade.
A leitura será uma importante ferramenta na sua jornada Estoica. Por isso, se estiver na dúvida de por qual leitura começar, aqui estão 3 recomendações.
- Manual do Epicteto é a obra clássica que recomendo para você começar sua leitura. A tradução é a melhor disponível, e a leitura é curta e é acessível mesmo para quem ainda não tem familiaridade com o Estoicismo.
- Por estes mesmos motivos também recomendo o tratado Sobre a Brevidade da Vida, do Sêneca.
- O Obstáculo é o Caminho, do Ryan Holiday, é uma boa opção caso você prefira começar por uma obra contemporânea em vez de uma clássica. Por ser um livro de 2012, a leitura é mais fluída para mentes atuais, e vai lhe ajudar a se familiarizar com os princípios. No livro, Ryan dá uma visão geral sobre a filosofia Estoica por meio de histórias, o que, inclusive, facilita a compreensão dos conceitos na prática.
Após ter lido ambos, escolha sua próxima leitura no artigo em que listei livros sobre Estoicismo em português.
Até lá, compartilhe esse artigo com uma amiga ou amigo! Assim, vocês poderão compartilhar reflexões e aprendizados um com o outro. A jornada Estoica é mais fácil de ser trilhada em grupo.
Por fim, qual conceito do Estoicismo você quer que eu produza conteúdos sobre em seguida? Deixe seu comentário, assim saberei quais devo priorizar.