Nós crescemos com aversão a regras. Quando criança, somos forçados a seguir regras alheias, seja do pais, da escola ou da comunidade. Muitas vezes, dos três.
Por isso, quando acordamos para a vida adulta, desenvolvemos um repúdio inconsciente a qualquer tipo de regra, o que pode nos causar todos os tipos de problemas psicológicos que se pode imaginar.
“Regras são para perdedores”, você pode pensar.
Sabe, nós, seres humanos, não só funcionamos melhor, mas também temos uma necessidade nativa de ter regras. Sem regras, tudo corre o risco de colapsar. Nada funciona.
Por isso sociedades foram formadas, por isso temos leis e por isso ainda vivemos com uma certa ordem.
Portanto, quando você entra em sua fase adulta, o propósito não deveria ser “que se dane as regras” e sim “agora eu posso criar as minhas próprias regras”. É como um poder divino.
Na prática, o Estoicismo acaba sendo uma filosofia de vida que você pode utilizar para extrair regras de como agir em determinadas situações, e hábitos que te tornem uma pessoa mais virtuosa. Felizmente, livros como Meditações ou as Cartas do Sêneca sobreviveram até os dias de hoje, e conseguirmos utilizar a mente de ambos Estoicos como referência de como agir de forma virtuosa.
Criando suas regras
Uma vez que você entende que precisa de regras, a questão de criar suas próprias regras nada mais é que mais um passo para uma vida que te dê orgulho. A vida que você sonha. A vida que você realmente quer.
O seu cérebro adora automatizar processos, foi assim que conseguimos salvar energia o suficiente para sobreviver durante milhões de anos. Sempre foi uma questão de sobrevivência. É assim que hábitos são formados.
Portanto, jogue o jogo do cérebro e utilize essa tendência nativa para o seu bem próprio. Explore o jogo. Vença a evolução.
Eu tenho regras pessoais que não são negociáveis — apesar de estarem em constante evolução. Essas regras constituem os meus valores morais e pessoais.
Regras como não trair, não enganar, não machucar os menos favorecidos. Ou seja, fazer o possível para não prejudicar o próximo. É quem eu escolhi ser.
No entanto, eu utilizo regras de formas mais sutis também. Um ótimo exemplo é minha rotina matinal.
Uma manhã de sucesso pra mim consistirá, invariavelmente, dos seguintes acontecimentos:
- Acordar cedo (relativo)
- Exercitar-me (academia, futebol, surfe, etc)
- Banho gelado
- Meditação (10 ou 15 minutos apenas)
- Ler enquanto tomo meu café (por cerca de 1 hora)
- Escrevo no meu diário (como me sinto, ou qualquer pensamento aleatório do dia)
Amigo, se eu tenho uma manhã dessas, e ao fim dessa rotina matinal eu já fiz isso tudo e ainda são 9 ou 10 da manhã, é quase impossível ter um dia ruim, porque eu estou preparado pra tudo. Não há tempo ruim.
Ganhe sua manhã e você ganhará seu dia. Ganhe seus dias e você ganhará suas semanas. Ganhe a maioria das semanas e você terá um ano de sucesso.
“O que impede a ação avança a ação. O obstáculo no caminho se torna o caminho.”
— Marco Aurélio
É evidente que nem todas as minhas manhãs são assim, há falhas. Até por isso prefiro chamar de rituais do que regras. Muitas das falhas são por minha causa, outras por fatores que estão fora do meu controle. Eu não julgo.
No entanto, uma regra minha é que a minha manhã ideal consiste dos fatores que te passei.
Eu tenho rituais para quase tudo que faço, e a maioria deles eu criei de forma deliberada. Ou seja, eu sentei, pensei e planejei qual seria a melhor forma de automatizar alguns dos meus processos diários.
Quer mais um exemplo? Quando sento para trabalhar.
Levando em consideração a minha rotina matinal, quando eu sento pra trabalhar (logo após o jornal diário) eu já estou em um estado mental privilegiado.
Eu me obriguei a começar o dia bem.
Além disso, possuo o privilégio imensurável de trabalhar de casa, do meu computador. Logo, minha rotina torna-se difícil de ser replicada por qualquer um. É por isso que ela é minha, você que ache a sua.
- Sento no local de trabalho (home-office, Starbucks, etc)
- Ligo o computador
- Ligo o headphone, que já conecta automaticamente ao computador
- Abro o Spotify e ponho uma playlist de trabalho (normalmente um jazz calmo, blues ou música clássica)
- Abro meu To-Do App (uso o da Microsoft, funciona perfeitamente pra mim)
- Planejo o meu dia, priorizando os problemas mais difíceis a serem enfrentados
- Abro meu email profissional
- Começo o dia :)
É quase que automático essa sequência, o que me salva tempo e energia.
Como achar as melhores regras e rituais para você
É óbvio afirmar que sua rotina será diferente da minha.
Sejam regras, rituais, rotinas ou qualquer outro nome: você precisa achar o estilo de vida que funciona pra você, e precisa ser deliberado, com intenção. A única forma de fazer isso é através de pura reflexão.
Pega papel e caneta, senta o rabo e começa a pensar. Escreva tudo que você faz no seu dia-a-dia. Ache o que você gosta, mantenha. Remova o que não acha saudável. Tente ritualizar tudo que você faz de forma repetida. Tente otimizar os espaços vazios.
Você precisa pegar um ônibus por 1 hora para ir ao trabalho? Ao invés de ouvir o seu pagode (ou qualquer outra música), utilize essa hora que de outra forma seria desperdiçada. Seja para planejar o dia, para se educar (através de audiobooks ou podcasts), ou para qualquer outro fim que te ajude a melhorar a sua vida, mesmo que minimamente.
Otimize seu tempo de forma que você tenha mais espaço pra fazer o que ama, e se transformar em quem você precisa para alcançar seus objetivos pessoais.
Não deixe sua vida automatizar-se sozinha. E não se engane — ela irá.
Você está fadado a ser um escravo das regras e da rotina, e se você não for o escravizador, será escravizado. Tome posse dos seus dias.
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Publicado originalmente no Medium.