A história do Estoicismo nasceu a partir de um naufrágio. Nada como começar a filosofia tendo que encarar um obstáculo, ou no caso uma tempestade, no caminho.
Zenão de Cítio (Cítio, por volta de 334 a.C. — Atenas, por volta de 262 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Ele, que tinha origem fenícua, nasceu em Cítio, na ilha de Chipre. Por volta de 300 a.C., Zenão, que era comerciante, transportava uma carga preciosa: um pigmento púrpura extraído de caramujos marinhos. Com a tempestade, Zenão escapou mas viu seus produtos afundarem. Conta a história que após ter perdido tudo, Zenão vai para Atenas e busca conselhos no Oráculo de Delfos, no qual recebe o recado de uma sacerdotisa para "tomar a cor não de moluscos mortos, mas de homens mortos", como relata Donald Robertson em seu livro sobre Marco Aurélio "Pense como um imperador".
Em Atenas, buscando entender o significado de tudo que havia ocorrido, segue para uma livraria e em um dos livros começa a ler sobre Sócrates. Zenão, então, entende o recado e decide seguir um homem como aquele, um filósofo. Perguntando ao livreiro onde poderia encontrar um filósofo, Zenão acaba por seguir Crates de Tebas, filósofo Cínico. Após duas décadas, Zenão fundou sua própria escola.
Cinismo e Estoicismo são duas escolas filosóficas helenísticas. Diógenes de Sinope foi um dos fundadores do Cinismo, por volta de 380 a.C., e um de seus membros mais conhecidos. Ele vivia em um barril e negava posses e normas da sociedade. Diógenes foi o professor de Crates de Tebas, que por sua vez foi o professor de Zenão de Cítio, o fundador do Estoicismo. Os cínicos defendiam um estilo de vida ascético. Crates foi casado com Hipárquia de Maroneia (350-30 a.C - 280 a.C), uma das mais notáveis filósofas da antiguidade.
“A filosofia antiga do cinismo dedicava-se a cultivar a virtude e a força do caráter por meio de um treinamento rigoroso que consistia em suportar várias formas de ‘dificuldades voluntárias’” - Donald Robertson
Já os estoicos, adeptos de uma filosofia prática, valorizam a vida em sociedade, defendem a conexão e o respeito entre os seres humanos e acreditam que para ser virtuoso é preciso participar da vida pública. Em concordância, as duas escolas acreditavam que o propósito da vida era a virtude e que deviam viver de acordo com a natureza. Zenão ensinou que a moralidade é importante acima de tudo, como os cínicos, mas também aceitou que alguns “indiferentes” eram preferíveis e aceitáveis.
Segundo o antigo biógrafo Diógenes Laércio, Zenão brincou: “Agora que sofri naufrágio, estou em uma boa viagem”, ou segundo outro relato: “Você fez bem, Fortune, levando-me assim à filosofia”, ele teria dito.
Baseado nas idéias morais dos cínicos, o Estoicismo deu grande ênfase à bondade e à paz de espírito, adquirida ao viver uma vida de virtude, de acordo com a natureza. Foi muito bem sucedida, e floresceu como a filosofia dominante desde o período helenístico até a era romana.
O nome da filosofia vem da Stoa Poikile (alpendre pintado), um mercado público em Atenas onde os estoicos se encontravam para discutir a filosofia com qualquer pessoa interessada. Vale dizer que os estudantes da escola foram chamados por um tempo de zenonianos, mas depois assumiram o nome de estoicos. Os primeiros estoicos foram influenciados pelas escolas filosóficas anteriores e pensadores, em particular Sócrates e os cínicos, mas também os acadêmicos (seguidores de Platão) e os Céticos.
"Zenão dizia a seus alunos que havia aprendido a valorizar a sabedoria mais do que a riqueza ou a reputação. Ele costumava dizer: 'Minha jornada mais lucrativa começou no dia em que naufraguei e perdi toda a minha fortuna'" - Donald Robertson.
Infelizmente, nenhum dos escritos de Zenão sobreviveu. Sabemos, no entanto, que Zenão escreveu República, uma obra em referência ao livro de Platão.
Nele, ele delineou sua sociedade ideal baseada em princípios igualitários. Zenão imaginou uma comunidade ideal de sábios que incluía mulheres. Plutarco escreveu sobre essa obra:
“visa unicamente isso, que, nem nas cidades nem nas vilas, deveríamos viver sob leis que diferenciassem as pessoas, mas que deveríamos considerar todas as pessoas em como nossos companheiros e cidadãos, observando um modo de vida e um tipo de ordem, como um rebanho que se alimenta com igual direito em um pasto comum”.
O Estoicismo começou com um naufrágio. O que Zenão de Cítio, um rico comerciante, fez após perder toda a sua mercadoria em um naufrágio? Buscou refúgio nos livros, encantou-se com a filosofia e resolveu segui-la como principal caminho em sua vida. Poderíamos dizer, assim, que Zenão optou pela virtude naquela dada situação, que não era nem um pouco agradável.
Citações de Zenão
“Melhor tropeçar com os pés do que com a língua.”
“Nós temos dois ouvidos e uma boca, então devemos ouvir mais do que falar.”
“Se você colocar as mãos violentas em mim, você terá meu corpo, mas minha mente permanecerá com Stilpo.”
“A felicidade é um bom fluxo de vida.”
“Um sentimento ruim é uma comoção da mente repugnante à razão e contra a natureza.”
“O bem-estar é alcançado por pequenos passos, mas na verdade não é pouca coisa.”
Referência:
"Pense como um imperador: Conheça a mente de um dos maiores líderes da história e descubra como um mindset resiliente pode vencer qualquer adversidade", de Donald Robertson
"The Beginner's Guide to Stoicism: Tools for Emotional Resilience and Positivity", de Matthew Van Natta
"The Stoic Emergency Kit", de Massimo Pigliucci
Who Is Zeno? An Introduction to the Founder of Stoicism
“Estoicismo”, de George Stock